24 fevereiro 2013

희망.


Geralmente sou o tipo de pessoa que foca naquilo que quer com tanta propriedade que mesmo não tendo afirmação alguma sobre tal coisa, já chama tal coisa de "meu". Porém tal sentimento se multiplicou, muitas e muitas vezes nesse começo de ano. Resumo em cinco letras: UFRRJ. Ou Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. No aguardo angustiante de querer e pedir e pedir de novo a Deus para passar para uma universidade pública do Brasil é inevitável a todos aqueles jovens ou não que tentaram e verdadeiramente se empenharam ao estudar para o vestibular. E estar tão perto de conseguir algo nunca foi, em toda a vida, tão surrealista a ponto de me tirar algumas horas de sono e mais 40 minutos diários de meditação, mantras e preces direcionadas a esse pedido. É um sonho, uma possibilidade, um caminho. Querendo ou não, abrirá portas essas míseras cinco letras em um CV¹; e isso, para mim, faz muita diferença. 
Se você tem entre 18 e 25 anos e tem noção disso sabe que achar que todo o seu futuro estará arruinado se você simplesmente não vir seu grande e bonito nome na lista de convocados, seja esta a da tão desejada primeira chamada, quanto a da lista de espera, pode ser um martírio durante um mês, dois, ou mais. A ansiedade passa a pulsar junto com seu sangue, começa a invadir pensamentos, sensações, TUDO. Tudo o que fazemos remete a lista, aos meses que se seguirão, a expectativa que se arrasta até a data de liberação dos nomes. Você fica louco por semanas a fio, sabe, mas gosta disso. Qualquer coisa para ser "bixo", calouro, primeiro período, o estudante cheio de gás que não imagina um terço do que o espera pela frente. Mas que está lá atualizando trinta, quarenta, cinquenta vezes a página com as informações a toda hora e minuto, mesmo que sem sucesso. 
Então, no meio de toda loucura pós vestibular e pré trote, eu me virei inevitavelmente para Deus (ou quem você quiser imaginar que seja essa força boa na qual podemos sempre recorrer), e pedi como Liz Gilbert² contou em seu livro:
"Tem uma antiga e maravilhosa piada italiana sobre um homem pobre que ia a igreja todos os dias e que rezava diante da estatua de um grande santo implorando: "Querido santo, por favor, por favor,  por favor deixa eu ganhar na loteria."  Finalmente a estatua irritada criou vida, olhou para baixo e disse ao pedinte: "Meu filho,  por favor, por favor, por favor, compre um bilhete!"
Bom, eu não comprei três bilhetes como a Liz, mas pedi uma espécie de ticket pass free para Deus, uma conversa aberta mesmo, sem "Senhor meu Deus" ou "Pai Supremo de todos nós". Foi genérico, porém sincero. "Por favor, por favor, por favor! Me deixe passar para a faculdade." E momentos depois minha consciência respondeu. "Vai pedir, mas sem me agradecer?" E então eu vi, no fim daquela longa meditação uma resposta e em seguida disse para mim e para Deus, afirmando energicamente cada palavra: "Eu agradeço por me deixar passar para a faculdade e por me dar essa oportunidade; eu vou fazer o meu melhor para a partir de agora estar em maior contato Contigo". 
E assim foi, um green card celestial sem data, sem carimbo e sem nenhum um "assine aqui". Um papel impresso com a ordem de preenchimento sem previsão. Assim fiz, e ele está aqui agora, na minha mente guardado esperando para ser preenchido. Eu pedi, pedi mesmo a Ele, mas não ordenei, ou pus condições. Apenas pedi, e venho aguardando. Quanto tempo? Eu não sei. E você pode dizer que sou louca, pirada, esquisita. "Você tem que merecer, acertar bastante! Ninguém passa pedindo." É de certa forma o certo e o que pensam. Mas as condições de merecimento não cabem a mim dizer. Nem a você. E mesmo que eu não sabia, espero sinceramente que eu mereça.

Então, hoje, mentalizo apenas "희망."³
E aguardo, ainda um tanto quanto ansiosa, engolindo uma ou duas borboletas aqui e ali. Mas com certezas que nunca tive antes.

¹CV: Curriculum Vitae
²Elizabeth Gilbert: Autora do best-seller: Comer, Rezar, Amar
³"희망" (Hye-mang) - Esperança em coreano

2 comentários:

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